terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Segunda fase do Modernismo 1930 - 1945 (prosa)

 Segunda geração modernista
 Romances caracterizados pela denúncia, na prosa houve grande interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira com um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo-Naturalismo. Na prosa, atingiu-se elevado grau de tensão nas relações do "eu" com o mundo; é o encontro do escritor com seu povo. Havia uma busca do homem brasileiro nas várias regiões, por isso, o regionalismo ganhou importância, com destaque às relações da personagem com o meio natural e social (seca, migração, problemas do trabalhador rural, miséria, ignorância).
 Além do regionalismo, destacaram-se também outras temáticas como o romance urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a narrativa surrealista.
 Refletindo as preocupações sociais e políticas que agitavam o Brasil na época, desenvolveu-se um tipo de ficção que encaminhou para o documentário social e romance político. A publicação, em 1928, de A bagaceira, de José Américo de Almeida, costuma ser indicada como marco inicial dessa série de obras cuja intensão básica foi a denúncia dos problemas sociais econômicos do nordeste, dos dramas dos retirantes das secas e da exploração do homem num sistema social injusto.

 Principais autores e obras:

 Graciliano Ramos

 Considerado o maior representante da geração neo-realista nordestina, sua obra é considerada como "clássica" pela qualidade literária. Seus romances tratam tanto do social (miséria, fome, seca, latifúndio), como do psicológico (opressão, medo, angústia etc.). Linguagem condensada, sem retórica, obra neo-realista: romance crítico, de tensão entre a personagem e o meio (natureza e sociedade), romance de esquerda. Em março de 1936, sob suspeita de ter participado da ANL (Aliança Nacional Libertadora), Graciliano foi preso pela polícia de Getúlio Vargas. Levado para a prisão de Ilha Grande (RJ), ficou lá um ano sem acusação formal. A experiência na prisão foi relatada em "Memórias do Cárcere".
 Principais obras: São Bernardo, Vidas Secas, Memórias do Cárcere, Angústia.

 Vidas Secas: história de uma família de retirantes que vive em pleno agreste os sofrimentos da estiagem. Universo pobre de um homem (Fabiano), uma mulher (Sinhá Vitória), os filhos e uma cachorra (Baleia).
 Fabiano, Sinhá Vitória e os filhos são exemplos de seres convertidos em criaturas, animalizados, brutalizados por causa da precariedade de suas condições de vida, enquanto abandonam a terra onde nasceram, ressequida, estéril, procuravam na cidade uma forma de sobrevivência.
 Um trecho da obra que ilustra a perda de humanidade de Fabiano: "Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo(...)."
 Ao longo deste romance, é muito comum as vozes do narrador e das personagens se confundirem, através do discurso indireto livre, um dos mais importantes recursos narrativos de Graciliano Ramos, cuja retórica, e de muitos verbalismos, parece se alojar no interior das personagens, fundindo homem e paisagem, ação e processos mentais.
 Por essas razões, Graciliano Ramos significa a maturidade de nossa ficção regionalista, a expressão literária, a dimensão política, universal de nossos problemas aparentemente locais.

 José Lins do Rego

 As obras de José Lins do Rego compõem os chamados romances do ciclo da cana-de-açúcar. Neles o autor recompõe sua infância, tendo sido descendente de grandes proprietários canavieiros do nordeste. Escritos em primeira pessoa, estes romances retratam literalmente a crise de tradição e a necessidade de modernização, a transformação do Engenho em usina. Esse tema é especialmente abordado em Fogo Morto (não faz parte do ciclo), que é escrito em terceira pessoa. Nele, o autor mostra as relações psicológicas dos vários tipos sociais (o velho Senhor, a Sinhá, o trabalhador jagunço etc.) perante uma usina de "Fogo Morto", isto é, parada, morta, decadente.
 Principais obras: Fogo Morto, Usina, Menino do Engenho.

 Érico Veríssimo

 Érico Veríssimo nasceu no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre entrou em contato com a vida literária e iniciou-se no jornalismo, começou a publicar romances. Fantoches foi o primeiro (Contos que exibem estrutura de peças de teatro), mas Clarissa foi a primeira obra que o tornou popular.
 Os críticos literários classificaram suas obras em três fases:
 1º fase: Romance urbano - Visão otimista, linguagem simples, cotidiano da vida urbana de Porto Alegre, apresentação de problemas sociais, morais e humanos. Iniciou-se com a publicação de Clarissa, depois vieram: Caminhos Cruzados, Música ao longe, Um lugar ao sol, Olhai os lírios do campo, Saga, E o resto é silêncio.
 2° fase: Romance histórico - Inicia-se com a obra O Tempo e o Vento, aborda a formação do Rio Grande do Sul desde as sua origens.
 3° fase: Romance político - Temas políticos e engajamento social. Na obra "O Tempo e o Vento", Érico Veríssimo deu sua opinião sobre Getúlio Vargas pela boca de um personagem: "Tudo nele é mediano e medíocre. Jamais teve um pitoresco dum flores da Cunha, o brilho dum Osvaldo Aranha, a eloquencia de um João Neves (...). É um homem frio, reservado, cauteloso, impessoal (...) calmo numa terra de esquentados. Disciplinado numa terra de indisciplinados. Prudente numa terra de imprudentes. Sóbrio numa terra de esbanjadores. Um silencioso numa terra de papagaios".
 Livros: O senhor embaixador, O prisioneiro, Incidente em Antares.

 O continente - Essa obra, que marca o início da trilogia O tempo e o vento, constitui um grandioso painel do Rio Grande do Sul no período que vai dos fins do século XVIII até a Revolução de 1893.
 Girando sempre em função de um ponto central - a região de Santa Fé, a obra apresenta vários episódios que marcaram a origem do desenvolvimento do poder de duas famílias: Amaral e Terra Cambará.
 Capitão Rodrigo Cambará, andarilho guerreiro que, fixando-se em Santa Fé, apaixona-se por Bibiana Terra, com quem mais tarde se casa, originando a família Terra Cambará e formando o início da oposição aos Amarais.

 Rachel de Queiroz

 Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, ainda não tinha completado vinte anos quando publicou seu primeiro romance, O Quinze. Rachel foi a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras.
 O Quinze - O romance O Quinze projetou nacionalmente o nome de Rachel de queiroz. Retomando o tema da seca, que já fora tratado em outros romances, Rachel deu-lhe maior dimensão social, sem deixar de lado a análise psicológica de algumas personagens.
 A marcha penosa e trágica da família de Chico Bento, que representa o retirante, constitui o núcleo dramático da obra. A par disso, desenvolve-se o drama da impossibilidade de comunicação afetiva entre Vicente e Conceição; ele, um dono de fazenda sensível à miséria que o rodeia, mas impotente para eliminá-la; ela, uma moça da cidade atraída pela figura livre e franca de Vicente, mas que não consegue penetrar em seu mundo rude, quase selvagem.
 Principais obras: O Quinze, João Miguel, Caminho de pedras, As três Marias, Dôra Doralina, Memorial de Maria Moura.

 Jorge Amado

 Jorge Amado nasceu na Bahia, é o autor mais adaptado da televisão brasileira, quase sempre interessado em abordar problemas sociais e políticos, sua extensa obra trata tanto da região cacaueira da Bahia como da zona urbana de Salvador, era um hábil fixador de tipos humanos, costumes e festas populares.
 Principais obras: Jubiabá, Mar Morto, Capitães de areia, Terras do sem-fim, Gabriela, cravo e canela, Os velhos marinheiros, Dona flor e seus dois maridos, Tenda dos milagres, Tieta do Agreste.

 Terras do sem-fim - Este romance aborda a época da fixação e expansão das fazendas de cacau em São Jorge dos Ilhéus.
 Com a cobiça e o desejo de enriquecimento, surgem as lutas entre dois fazendeiros: o coronel Horácio da Silveira e Juca Badaró, da família dos Badarós, a mais rica da região. Ambas disputam as terras incultas de modo violento, principalmente Horácio, para quem as armas eram as únicas leis.
 Ao lado dessa linha principal do enredo, há o drama de Ester, esposa de Horácio, educada em outro meio e com outros sonhos, e que não se acostuma com a vida fechada e cercada de perigos que leva na fazenda, sempre sobressaltada pelos ruídos da mata e pelos crimes. Quando conhece Virgílio, um novo advogado que passa a frequentar sua casa, vê nele a figura de seus sonhos de adolescente, perdidos com o casamento com Horácio. Acaba por tornar-se sua amante.
 A estrutura do livro mantém um suspense na sequencia dos fatos que envolvem as lutas entre fazendeiros e capangas e o drama íntimo de Ester. No final, ela morre de tifo enquanto Virgílio, mais tarde, é assassinado por Horácio que ficara sabendo de tudo. Com a posse do Sequeiro Grande, Horácio torna-se o principal chefe de São Jorge do Ilhéus.


Link do meu canal do Youtube para complementar seus estudos:


https://www.youtube.com/watch?v=JRHywjS1WyI

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