quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Crônica

 A Crônica
 A crônica, que surgiu em nossa literatura no século XIX, firmou-se no Modernismo, atraindo um grande número de escritores que a ela se dedicaram de maneira contínua ou esporádica. Ainda que seja difícil determinar com exatidão todas as característica da crônica, pode-se dizer que, atualmente, ela representa o registro do quotidiano no que ele possa apresentar de pitoresco ou interessante. No entanto, o fato em si atrai menos do que aquilo que dele possa extrair o cronista, seja uma observação humorística, um momento lírico, uma reflexão filosófica ou um comentário de crítica social.
 Hoje em dia, a crônica é um dos gêneros mais apreciados pelo público leitor e tem lugar reservado nos principais jornais e revistas do país.
 Dentre os inúmeros escritores podemos citar: Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Luís Martins, Lourenço Diaféria, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz, Luís Fernando Veríssimo, Carlos Eduardo Novaes, Sérgio Porto(Stanislaw Ponte Preta), Manuel Bandeira, Dinah Silveira de Queiroz entre outros.

Ator Cláudio Marzo interpretou "O homem nu" no cinema.
 Enredo de "O homem nu" (Fernando Sabino)


 Um homem tinha que pagar a prestação de sua televisão. Quando acorda, ele fala para sua esposa não abrir a porta para ninguém durante o dia. Pede também para que se a campainha fosse tocada, ela deveria ficar em silêncio, pois estavam se escondendo de um cobrador.
 Quando vai tomar banho, já totalmente nu, percebe que a sua esposa estava tomando banho. Então ele decide preparar o café da manhã. Quando vai pegar o pão, que estava fora do seu apartamento, ele olha atentamente para os dois lados, dá dois longos passos e agarra o pão. Nesse momento, é surpreendido por uma rajada de vento, a porta bate e se tranca e ele fica sozinho, nu no corredor somente com o pão nas mãos para esconder sua nudez.
 O pavor leva-o a se esconder na escada, quando ouve passos de alguém subindo, vai para o elevador, que é chamado e leva-o para outro andar.
 Este conto deu origem ao filme do mesmo nome, tudo escrito com humor, Fernando Sabino descreveu o lado pitoresco do quotidiano, com várias situações de uma maneira direta. Principais características da crônica O homem nu:


  • Simplicidade
  • Objetividade
  • Observação da vida e hábito das pessoas
  • Nudez do homem urbano do século XX  =  reflexão sobre a condição humana e elementos repressores da cultura. A personagem central do conto é avaliado a partir da ausência de roupas (Crítica ao moralismo rígido da sociedade).
Fernando Sabino
 Rubem Braga

 Foi um dos melhores cronistas da literatura brasileira, e as características principais de suas obras são:
  • Flagrante do quotidiano
  • Linguagem poética e sensível
  • Observar os outros
  • O narrador por vezes se apresenta em 1º pessoa, mas não é o centro da narrativa
  • Busca do lado humano "na selva de pedra" em que vivemos

Rubem Braga
 A outra noite

 Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de Lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
 Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
 - O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
 Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.
 - Mas, que coisa...
 Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
 - Ora, sim senhor...
 E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
                                                                  
                                                  (Ai de Ti, Copacabana. RJ,1960.p.183-84)


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