quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Segunda fase do Modernismo 1930 - 1945 (poesia)

 Um rico período de construção
 Abandonando o espírito destrutivo e irreverente dos primeiros momentos do Modernismo, a poesia, mais ou menos a partir de 1930, apresenta um gradual amadurecimento.
 Aproveitando a liberdade estética conquistada e elaborando uma linguagem pessoal, os poetas da segunda fase desenvolveram plenamente suas tendências próprias sem a preocupação de chocar ou agredir o público tradicionalista.
 Principais poetas desta fase: Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Augusto F. Schmidt, Henriqueta Lisboa, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Dante Milano, Mário Quintana, Joaquim Cardozo entre outros. Alguns poetas da época anterior se renovaram, como é o caso de Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
 Do ponto de vista dos conteúdos, dos significados, a preocupação nacionalista, que foi uma das tônicas principais dos representantes da Semana de 22, alastrou-se e adquiriu novo rigor, na medida em que o Brasil passou a ser visto não "em si" mas no contexto universal do sistema capitalista de que fez parte.
 O caráter construtivo da segunda geração tem face dupla, do ponto de vista estrutural, caracteriza-se por uma revalorização de determinadas formas tradicionais, como o soneto, e ainda uma redução do "vanguardismo" dos primeiros modernistas, conciliando a combatividade de sua linguagem com a necessidade de polissemia, de riqueza, de significados.
 Construção e dimensão universalista são elementos fundamentais de nossa segunda geração modernista.

 Cecília Meireles - A poesia de Cecília Meireles caracteriza-se principalmente pela leveza, pela delicadeza com que tematiza a passagem do tempo , a transitoriedade da vida, a fugacidade dos objetos, que aparecem impalpáveis em seus poemas, influenciados por filosofias orientais e elaborados com linguagem predominantemente sensorial e intuitiva, herdando a linguagem musical do Simbolismo. O sentimento de saudade, melancolia e do tempo que passa, marcada por nota de tristeza e desencanto, revela-se como uma das mais significativas expressões do lirismo moderno.

Retrato

 Eu não tinha este rosto de hoje,
 assim calmo, assim triste, assim magro
 nem estes olhos tão vazios,
 nem o lábio amargo.

 Eu não tinha estas mãos sem força,
 tão paradas e frias e mortas;
 eu não tinha este coração 
 que nem se mostra.

 Eu não por esta mudança,
 tão simples, tão certa, tão fácil:
 -Em que espelho ficou perdida a minha face?

 Presença da primeira pessoa: "eu lírico" descrevendo o próprio rosto.
 Advérbio de negação e pronome demonstrativo = passagem de tempo e transitoriedade da vida. Melancolia do "eu lírico".
 Há também o uso seguido da palavra "assim", dando ritmo lento ao verso, como se a passagem do tempo fosse imperceptível para o "eu lírico".
 Cecília Meireles, abordou o tema da transitoriedade da vida, sua passagem de maneira filosófica, universal, recebendo influências do grupo espiritual ao qual pertenceu.


 Vinícius de Moraes - Crítico cinematográfico, exerceu também a carreira diplomática. Foi  um dos poetas mais famosos do Brasil, principalmente pela projeção adquirida por sua ligação com a Bossa Nova. A sua poesia denota certa impregnação religiosa, com poemas longos, de acentos bíblicos, mas que abandonou pouco a pouco em favor de sua tendência natural: A poesia intimista, pessoal, voltada para o amor físico, com uma linguagem ao mesmo tempo realista, coloquial e lírica.

Soneto de separação

 De repente do riso fez-se o pranto
 silencioso e branco como a bruma
 e das bocas unidas fez-se a espuma
 e das mãos espalmadas fez-se o espanto.

 De repente da calma fez-se o vento
 que os olhos desfez a última chama
 e da paixão fez-se o pressentimento
 e do momento imóvel fez-se o drama.

 De repente, não mais que de repente
 fez-se de triste o que se fez amante
 e de sozinho o que se fez contente

 fez-se do amigo próximo o distante
 fez-se da vida uma aventura errante
 de repente, não mais quis que de repente.

 A forma soneto, os verbos decassílabos e as rimas regulares associam-se à musicalidade, às aliterações (silencioso e branco como a bruma), fazendo-se pensar no Simbolismo.


 Carlos Drummond de Andrade - Sua obra tem um gradual processo de investigação da realidade humana. Desde os primeiros livros, delineiam-se as linhas básicas de sua poesia: visão crítica das relações sociais e humanas, frequentemente expressa em tom irônico, e certo desencanto com relação à vida, recusando-se a um envolvimento sentimental. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, sua poesia participante atingiu grande intensidade no livro A Rosa do Povo, com o poeta reconhecendo a necessidade de se integrar no seu tempo, de caminhar de "mãos dadas". Pouco a pouco, porém, a participação social através da poesia foi cedendo lugar a uma visão cada vez mais desiludida, em que a esperança num novo tempo é substituída por uma resignação madura diante da falta de solidariedade e justiça. Ao mesmo tempo, o poeta mergulha em seu passado, buscando na infância as origens desse seu modo introspectivo; isso se manifesta claramente nos poemas em que trata do pai, da vida antiga em Itabira (Cidade mineira em que nasceu). Além de poeta, Drummond escreveu contos e crônicas.

 Poema de Sete Faces

 Quando nasci, um anjo torto
 desses que vivem na sombra
 disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
 (...)
 Mundo mundo vasto mundo,
 se eu me chamasse Raimundo
 seria uma rima, não seria uma solução.
 Mundo mundo vasto mundo,
 mais vasto é meu coração.

 No Meio do Caminho

 No meio do caminho tinha uma pedra
 tinha uma pedra no meio do caminho
 tinha uma pedra
 no meio do caminho tinha uma pedra.

 Nunca me esquecerei desse acontecimento
 na vida de minhas retinas tão fatigadas.
 Nunca me esquecerei que no meio do caminho
 tinha uma pedra
 tinha uma pedra no meio do caminho
 no meio do caminho tinha uma pedra.

 José

 E agora, José?
 A festa acabou,
 a luz apagou, 
 o povo sumiu, 
 a noite esfriou,
 e agora José?
 e agora, você?
 você que é sem nome,
 que zomba dos outros, 
 você que faz versos,
 que ama, protesta?
 e agora José?
 (...)
 Sozinho no escuro
 qual bicho-do-mato
 sem teogonia,
 sem parede nua
 para se encostar, 
 sem cavalo preto 
 que fuja a galope,
 você marcha, José!
 José, para onde?

 O poema Sete Faces é significativo da primeira fase da poesia de Drummond, onde o poeta se coloca como um "gauche", um desajeitado, cujo coração - mais vasto que o mundo transborda. Mas transborda com ironia, humor, sarcasmo.
 No meio do caminho, por sua vez, é o poema mais "antipoético" da literatura brasileira , ilustra a travessia do poeta entre o individual e o social, o coração e o mundo.
 A pedra no caminho, é o obstáculo que distancia o sujeito do objeto, o homem de seus sonhos, marca o itinerário poético de Drummomd, cada vez mais dirigido ao real.
 José, é o "beco sem saída", a consciência da solidão, da vontade de não continuar. Oscilação entre o coração e o mundo, querer fugir sem ter para onde.


 Jorge de Lima - De modo geral, a crítica costuma reconhecer quatro fases na evolução poética de Jorge de Lima: a parnasiana do livro XIV Alexandrinos, do qual se destaca o soneto "O acendedor de lampiões"; de 1927 a 1932, estava presente o tema das recordações da infância passada no nordeste. É desta fase o poema "Nega Fulô". Logo depois dessa preocupação regionalista, Jorge de Lima passou a escrever poemas de caráter religioso e místico; esta temática continuou em textos esparsos  e nos livros A túnica inconsútil, Anunciação e Encontro de Mira-Celi. O tema das recordações dos escravos e do misticismo africano reapareceu em Poemas negros. Sua última obra, Invenção de Orfeu, é um longo poema com características épicas que expressa simbolicamente uma profunda reflexão sobre a vida humana e o universo.

 Pai João

 Pai João secou como um pau sem raiz.-
Pai João vai morrer.
Pai João remou nas canoas.-
Cavou a terra.
Fez brotar do chão a esmeralda,
Das folhas - café, cana, algodão.
Pai João cavou mais esmeraldas
Que Pais Leme.
A filha de Pai João tinha um peito de
Turina para os filhos de Ioiô mamar:
Quando o peito secou a filha de Pai João
Também secou agarrada num
Ferro de engomar.
A pele de Pai João ficou na ponta
Dos chicotes.
A força de Pai João ficou no cabo
Da enxada e da foice.
A mulher de Pai João o branco
A roubou para fazer mucamas.
O sangue de Pai João se sumiu no sangue bom
Como um torrão de açúcar bruto
Numa panela de leite.-
Pai João foi cavalo pra os filhos de Ioiô montar.
Pai João sabia histórias tão bonitas que
Davam vontade de chorar.
Pai João vai morrer.
Há uma noite lá fora como a pele de Pai João.
Nem uma estrela no céu.
Parece até mandinga de pai João.


  Murilo Mendes-  Procurando incorporar uma visão global do ser humano na sua poesia, a linguagem de Murilo Mendes caminhou por diversos rumos, explorando profundamente as potencialidade linguísticas e exigindo sempre do leitor uma participação ativa na decifração de seus textos. Essa preocupação com a linguagem era uma constante fundamental de Murilo Mendes, para quem a poesia era "o pão quotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito".

Aproximação do terror

Dos braços do poeta
Pende a ópera do mundo
(Tempo, cirurgião do mundo) :

O abismo bate palmas,
A noite aponta o revólver.
Ouço a multidão, o coro do universo,
O trote das estrelas
Já nos subúrbios da caneta:
As rosas perderam a fala.
Entrega-se a morte a domicílio.
Dos braços...
pende a ópera do mundo.





Link do vídeo do meu canal do Youtube para complemento do estudo:




















                                                                                                  




domingo, 5 de dezembro de 2010

A primeira fase do Modernismo (1922 - 1930)

 Primeira fase do Modernismo - Período de agitação, com a primeira geração modernista preocupada em difundir novas ideias, não recuando diante das polêmicas e exibindo em muitas obras um tom agressivo e irônico com relação à literatura tradicionalista.
 A primeira semana do novo Brasil - A Semana de Arte Moderna durou três dias e reuniu poetas, escultores, pintores, músicos e intelectuais ligados à "Nova Arte". Iniciou-se calma, com a palestra "A estética na arte moderna", exposta por Graça Aranha, um dos padrinhos do evento. A confusão durou dois dias depois, na palestra de Menotti del Picchia ("Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminés de fábricas, sangue, velocidade e sonho na nossa arte", disse ele). A conferência abriu claramente a caça ao "passadismo", a plateia se conteve e não vaiou. Minutos depois houve uma vaia estrondosa.
 Os modernistas não foram vítimas inocentes, as vaias faziam parte do espetáculo, alguns estudiosos acham que os modernistas contrataram gente para uivar contra eles. A vaia era o mais caro sinal de reconhecimento.
 O Manifesto Antropofágico - Um fato importante pela polêmica que provocou foi a exposição de pintura moderna feita por Anita Malfatti nos meses de dezembro de 1917 e janeiro de 1918, em São Paulo. A pintura teve importância fundamental não apenas no advento da Semana de Arte Moderna como também na eclosão de todo o movimento modernista que veio a seguir. Voltando de uma viagem à Europa e aos Estados Unidos, onde entrara em contato com a arte moderna, Anita Malfatti, incentivada por alguns amigos, resolveu expor suas últimas obras. No acanhado meio artístico paulistano, a exposição provocou comentários variados, tanto a favor como contra. Entretanto o que realmente desencadeou a polêmica em torno não só da pintora mas principalmente da questão da validade da nova arte, foi um artigo escrito por Monteiro Lobato, que ficou conhecido por "Paranoia ou mistificação?"
 Essa crítica precipitada de Monteiro Lobato provocou ressentimentos em Anita Malfatti e, ao mesmo tempo, despertou uma atitude de simpatia de um grupo de artistas jovens com relação a ela, resultando manifestações de repúdio às concepções tradicionalistas de arte.
Abaporu, o antropófago, obra de Tarsila do Amaral - amiga de Anita Malfatti e apoiava o movimento modernista.


O Homem amarelo, de Anita Malfatti, obra considerada feia e de mal gosto pelos tradicionalistas.

Principais autores e obras:  

 Mário de Andrade - Foi um pesquisador que se interessou pelas mais variadas manifestações artísticas. Professor de piano, estudou e escreveu sobre folclore, música, pintura e literatura, sendo um dos mais dinâmicos batalhadores pela renovação da arte brasileira. De toda sua obra destacam-se:
  Poesia: - Há uma gota de sangue em cada poema, Paulicéia desvairada, Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males;
  Prosa: - Primeiro andar; Amar, verbo intransitivo; Macunaíma; Belazarte; Contos Novos; A escrava que não é Isaura; Aspectos da literatura brasileira; O empalhador de passarinho.

 Macunaíma - É chamado de rapsódia(inspiração folclórica) por Mário de Andrade, o livro é construído a partir de uma série de lendas a que se misturam superstições, provérbios e anedotas. O tempo e o espaço não obedecem a regras de verossimilhança e o fantástico se confunde com o real durante toda a narrativa.
 O material de que se serviu o autor, é de origem europeia, ameríndia e negra, pois Macunaíma nasce índio-negro, fica depois de olhos azuis. A ausência de caráter do "herói", sua preguiça e malícia, seu individualismo, tudo isso pode ser visto como o resultado confuso de várias influências culturais mal assimiladas, nesse sentido Macunaíma passa a constituir uma espécie de personificação do Brasil.
 O enredo central, frequentemente interrompido pela narração de "casos" ou lendas, é bem simples: Macunaíma tenta reaver o amuleto que ganhara de sua mulher Ci, Mãe do Mato, único amor sincero de sua vida, e que por desgosto pela morte do filho pequeno subiu aos céus e transformou-se na estrela Beta do Centauro. Macunaíma perdera esse amuleto prodigioso que ficou em poder do gigante Piaimã que se encontrava em São Paulo. Depois de vária façanhas junto com seus irmãos Maanape e Jiguê, recupera o amuleto (a muiraquitã). Após mais algumas aventuras, agora sozinho pois os irmãos haviam morrido, Macunaíma enganado pela Uiara (divindade que vive nos rios e lagos) , perde a muiraquitã e fica todo machucado, perdendo uma perna.
 Desiludido, resolve abandonar este mundo e subir aos céus, onde é transformado em constelação. É um herói capenga que se aborrecia de tudo, vaga solitário no campo vasto do céu.

 Oswald de Andrade - A poesia de Oswald de Andrade é um exemplo de renovação na linguagem literária. Fugindo aos modelos literários da época, ele construiu uma poesia original, com muito humor e ironia, numa linguagem coloquial que surpreende pela maestria com que o autor soube utilizar as potencialidades da língua portuguesa. A poesia de Oswald de Andrade repudia o purismo, a linguagem quotidiana está incorporada às suas poesias, não gostava de obedecer e copiar os padrões tradicionalistas.
 Poesia: Pau-Brasil; Primeiro caderno do aluno de poesia de Oswald de Andrade; Poesias reunidas.
 Prosa: Memórias sentimentais de João Miramar; Serafim do exílio; Estrela de absinto; Marco Zero I - A revolução melancólica; Marco zero II - Chão.
 Teatro: O homem e o cavalo; A morta; O rei da vela.

 Trechos do poema Pau-Brasil:

                  3 de maio
 Aprendi com meu filho de dez anos
 Que a poesia é a descoberta
 Das coisas que eu nunca vi.

 O verso livre, o tom de prosa, a simplicidade da linguagem e a síntese, são os principais elementos de modernidade deste poema metalinguístico, poesia sobre a poesia. Há sugestão de poesia como ingenuidade, magia, liberdade, universo infantil(não há fronteira entre sonho e liberdade).


 Pronominais

 Dê-me um cigarro
 Diz a gramática
 Do professor e do aluno
 E do mulato sabido 


 Mas o bom negro e bom branco
 Da Nação Brasileira
 Dizem todos os dias
 Deixa disso camarada
 Me dá um cigarro.

 A valorização da linguagem coloquial, próxima da vida, popular, opõe a gramática, o professor, o mulato sabido e o aluno.


 O capoeira
 -Qué apanhá sordado?
 -O Quê?
 -Qué apanhá?
  Pernas e cabeças na calçada.

 A ideia de luta é sugerida apenas por um diálogo rápido, tipicamente popular num estilo sintético. Este trecho  foi construído com transposição de técnica de cinema, montagem de cenas na tentativa de descontinuidade para causar a impressão de imagens simultâneas para o texto literário.


 Relicário
 No baile da Corte
 Foi o Conde d'Eu quem disse
 Pra Dona Benvinda
 Que farinha de Suruí
 Pinga de Parati
 Fumo de Baependi
 É comê bebê pitá e caí

 Este trecho do poema é representativo da proposta Pau-Brasil de poesia de exportação. Reconta momentos significativos da história do Brasil de maneira irônica.


 Manuel Bandeira - Sua linguagem coloquial e irônica atinge maior grau em Libertinagem. A ânsia de libertação e ausência dolorosa de figuras familiares estão presentes em "Vou-me embora pra Pasárgada", "Poema de Finados", "Evocação de Recife", "Profundamente". Nas outra obras, apareceram o desenvolvimento das linhas temáticas como saudade da infância, a presença da morte, a fugacidade da vida e do amor.

 Poesia: A cinza das horas; Carnaval; Ritmo dissoluto; Libertinagem; Estrela da manhã; Lira dos cinquent'anos; Mafuá do malungo etc.

Prosa: Crônicas da província do Brasil; Itinerário de Pasárgada; Andorinha, andorinha; Os reis vagabundos e mais 50 crônicas.

  Pneumotórax                

 Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
 A vida inteira que podia ter sido e não foi.
 Tosse, tosse, tosse.

 Mandou chamar o médico:
 - Diga trinta e três -
 - Trinta e três...trinta e três...trinta e três...
 - Respire...
 ...............................................................
 O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
 - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
 - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
                                                                                                      (Libertinagem)



 Este é um poema que tematiza a tuberculose, que assombrou toda a vida de Manuel Bandeira, criando a expectativa da morte. Os versos em prosa intercalam causa e consequência: Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos, os sintomas concretos da doença.
 O epsódio do médico, exemplo da presença da matéria normalmente antipoética, a ironia trágica e desesperada, mas mesmo assim lírica, delicada. No final pneumotórax , única esperança de cura é sugerido tocar um tango argentino é assumir poeticamente que não há cura possível e assim preparar-se para a morte. 




 Antônio de Alcântara Machado - Antônio de Alcântara Machado não participou da Semana de 22, mas foi um dos mais ativos escritores do movimento modernista tendo colaborado nas revistas Terra Roxa, Outras Terras, Revista de Antropofagia e Revista Nova.
 Antônio de Alcântara Machado, ao se interessar por essa vida quotidiana tão ausente de nossa literatura, realizava uma das aspirações do Modernismo, que era o desejo de representar a nova realidade social e urbana do começo do século XX.

 Deixou um romance inacabado (Ana Maria), crônicas (Pathé Baby e Cavaquinho e Saxofone) e contos (Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China) que foram reunidos no livro Novelas paulistanas.