quarta-feira, 27 de julho de 2011

Versificação

 A técnica e a arte de fazer versos chama-se versificação. Em Língua Portuguesa, compõem-se versos de duas até doze sílabas, são poucos os versos compostos por uma ou duas sílabas.


 1. Versos monossílabos - só têm uma sílaba forte.

 Rua
 torta.

 Lua
 morta.

 Tua
 porta.
                              Cassiano Ricardo

 2. Dissílabos

 Um raio
 Fulgura
 No espaço
 Esparso
 De luz.

                              Gonçalves Dias

 3. Trissílabos

 Foge, bicho
 Foge, povo
 Passa ponte
 Passa poste
 Passa pasto
 Passa boi

                              Manuel Bandeira

 4. Tetrassílabos

 O inverno brada
                   4
 forçando as portas...
                  4
 Oh! que revoada
                 4
 de folhas mortas
                  4
 o vento espalha
                       4
 por sobre o chão...

                              Alphonsus de Guimaraens

 5. Pentassílabos ou redondilha menor

 Dorme o pensamento.
                           5
 Riram-se? Choraram?
                         5
 Ninguém mais recorda.
                           5

                             Cecília Meireles

 6. Hexassílabos

 Há noite? Há vida? Há vozes?
                                     6
 Que espanto nos consome
                                  6
 de repente, mirando-nos?
                       6
 Alma, como é teu nome?
                              6

                              Cecília Meireles

 7. Heptassílabos ou redondilha maior -  Com relação às leis métricas, os versos com sete sílabas são os mais simples. É muito comum nas quadrinhas e canções populares. A última sílaba pode ser acentuada, os demais acentos podem cair em qualquer outra sílaba. É um verso tradicional em Língua Portuguesa, frequente nas cantigas medievais.

 Como pode o peixe vivo
                                 7
 Viver fora da água fria?
                              7
 Como poderei viver
                           7
 Sem a tua companhia?
                             7

                              Cantiga de roda

 8. Octossílabos

 No ar sossegado, um sino canta...
                                         8
 Um sino canta no ar sombrio...
                                        8

                              Olavo Bilac

 9. Eneassílabos

 Ó guerreiros da taba sagrada,
                                 9
 Ó guerreiros da tribo tupi!
                                      9
 Falam deuses nos cantos do piaga!
                                             9
 Ó guerreiros, meus cantos ouvi!

                              Gonçalves Dias

10.  Decassílabos ou heróicos - Foi um dos versos preferidos pelos poetas clássicos do século XVI.

 Mas já o planeta que no céu primeiro
                                                    10
 Habita, cinco vezes, apressada,
                                        10

                              Luís de Camões

 11. Endecassílabos

 Alvas pétalas do lírio de tua alma...
                                          11
 Astros, nuvens, madrugadas, aves, flores...
                                                        11

                              Hermes Fontes

 12. Dodecassílabos ou Alexandrino - O verso de doze é longo e foi muito utilizado pelos poetas clássicos e parnasianos.

 Subirão até Deus, nas asas da oração.
                                                     12

                              Alberto de Oliveira

 Revoavas ao tropel dos índios e das feras!
                                                          12

                              Olavo Bilac

 Versos bárbaros - São raros os versos com mais de doze sílabas



 Amor aos dezenove, saudade aos quarenta anos. 13

                              Francisco Otaviano

 Abre uma orquídea gloriosamente sorrindo ao sol... 14

                              Alberto de Oliveira

 Cada tipo de verso tem um ritmo próprio. O ritmo resulta da sucessão ou alternância regular de sílabas tônicas (fortes) e sílabas átonas (fracas). É o elemento melódico do verso, importante e essencial à poesia.





Número de sílabas poéticas
Sílabas acentuadas *
uma
1
duas
2
três
3 ou 1 e 3
quatro
1 e 4 ou 2 e 4
cinco
2 e 5 ou 3 e 5 ou 1, 3 e 5
seis
3 e 6 ou 2 e 6 ou 2, 4 e 6 ou 1, 4 e 6
sete
Qualquer sílaba e última
oito
4 e 8 ou 2, 6 e 8 ou 3, 5 e 8 ou 2, 5 e 8
nove
4 e 9 ou 3, 6 e 9
dez
6 e 10 ou 4, 8 e 10
onze
5 e 11 ou 2, 5, 8 e 11 ou 2, 4, 6 e 11
doze
6 e 12 ou 4, 8 e 12 ou 4, 6, 8 e 12



* Sílabas acentuadas são aquelas que apresentam maior intensidade quando são pronunciadas no verso.











                                     






















   




    

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ambiguidade ou anfibologia

 Ambiguidade ou anfibologia - É o vício da construção frasal que apresenta mais de uma interpretação. Em muitos casos, a ambiguidade provém de problemas de construção pelo uso indevido da coordenação ou má colocação das palavras:

 1. Encha seu filho de bolachas!
 É para dar biscoitos ou encher o menino de tapas?

 2. Pare de fumar correndo!
 É para deixar de fumar fazendo uma corrida ou parar de fumar rapidamente?

 3. Se o seu carro não pega, faça uma ligação direta.
 Tem que fazer uma ligação direta para o carro voltar a funcionar ou telefonar logo para alguém consertar?

 4. Ninguém esperava minha indicação para o cargo.
 Que eu fizesse a indicação ou que eu fosse indicado?

 5. A moça encontrou a irmã atrasada.
 Quem estava atrasada? a moça ou a irmã?

 6. O repórter entrevistou o escritor resfriado.
 Quem estava resfriado? o repórter ou o escritor?

 7. Ele comprou o carro rápido.
 Ele comprou o carro rapidamente, imediatamente ou o carro é rápido?

 8. A vítima deixou o diário dentro do armário secreto.
 Quem era secreto? o diário ou o armário?

 9. A empregada retirou o cobertor do armário sujo.
 O que estava sujo? o cobertor ou o armário?

 10. Fiel e valente, o guarda conta com a ajuda de seu cachorro.
 O guarda ou o cachorro é fiel e valente?

 11. Eu vi o artista com um binóculo.
 Eu estava com um binóculo ou era o artista?

 12.A mãe visitou a filha adoentada.
 Quem estava doente? a mãe ou a filha?

 13. Ela meteu a mão na massa para fazer a comida.
 Trabalhou com afinco ou misturou a massa, fez a receita?

 14. A empregada levou tempo para tirar a mesa.
 Retirou a mesa do lugar ou arrumou, desfez a mesa?

 15. Sempre gostei de preto no branco.
 São as cores preto e branco combinando ou gosta das ações, maneira de viver corretas?

 16. Ela não conseguiu a linha que desejava.
 Era linha para costurar ou linha telefônica?

 17. A empregada botou as mãos nas cadeiras.
 As cadeiras  (objetos)  aquelas que usamos para nos sentarmos ou eram as cadeiras da empregada? (cintura).

 18. Suas ações lhe trouxeram riqueza.
 São ações da Bolsa de Valores ou são as ações atitudes?

 19. O gráfico veio com a capa na mão.
 Capa de revista ou capa que ele usa no local de trabalho?

 20. Aquela não era a cadeira da Universidade que mais lhe agradava.
 Cadeira (móvel) ou a disciplina?

 A ambiguidade na Literatura

 Ambiguidade na Literatura não é pelo uso da má formação de palavras ou erro de construção frasal. Como Literatura é a arte da palavra, os poetas e escritores têm liberdade para criar suas obras para que o leitor possa ter várias reações e refletir.
 Um autor que costuma apresentar ambiguidade em suas obras é Machado de Assis. Na obra Dom Casmurro não adianta discutir se houve  adultério ou não e sim a narrativa ambigua Machadiana, repleta de dualismos do ser humano, conceitos morais e  contradição. Nunca saberemos se Capitu era maquiavélica, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", sedutora e capaz de trair ou se era simplesmente inocente, pois ninguém tem provas nem existem testemunhas da traição de Capitu.
 Em Dom Casmurro temos:
 verdade x realidade
 dualismo do ser humano x natureza do ciúme
 mal x bem

 Com a ambiguidade nas obras de Machado de Assis, não sabemos o que é bom ou mal, o que é real ou ficcção e qual o sentido exato das palavras.

Machado de Assis

 Outro autor que apresenta ambiguidade em suas obras é Álvares de Azevedo, sua obra influenciada por sua personalidade adolescente, revela ambiguidade:

 aspiração aos amores virginais x descrição da mulher erotizada
versos mórbidos x versos com humor
desejo carnal x sentimento amoroso

 Trecho de Soneto:

 "Era a virgem do mar! na escuma fria
 Pela maré das águas embalada!
 Era um anjo entre as nuvens d'avorada
 Que em sonhos se banhava e se esquecia!

 Era mais bela! o seio palpitando...
 Negros olhos as pálpebras abrindo...
 Formas nuas no leito resvalando..."

 No quarteto o poeta aspira ao amor virginal e no terceto ele descreve a mulher erotizada.

 Trecho de O poeta moribundo:

 "Poetas! amanhã ao meu cadáver
 Minha tripa cortai mais sonorosa!...
 Façam dela uma corda e cantem nela
 Os amores da vida esperançosa!"

 Trecho de Namoro a cavalo:

 "Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
 Que rege minha vida malfadada
 Pôs lá no fim da rua do Catete
 A minha Dulcinéia namorada.

 Alugo (três mil réis) por uma tarde
 Um cavalo de trote (que esparrela!)
 Só para erguer meus olhos suspirando
 À minha namorada na janela..."

 Tanto em O poeta moribundo, quando em Namoro a cavalo, evidentemente observamos características do romantismo byronista, mas devemos perceber que a abordagem é ambígua pois ora Álvares de Azevedo põe humor, ora pensamentos sobre a morte.

 Dificuldade de conciliar o desejo carnal com o sentimento amoroso:

 Trecho de Lira dos Vinte anos

Álvares de Azevedo
 Era uma noite - eu dormia
 E nos meus sonhos revia
 As ilusões que sonhei!
 E no meu lado senti...
 Meu Deus! por que não morri?
 Por que do sono acordei?
 No meu leito - adormecida
 Palpitante e adormecida
 Palpitante e abatida,
 A amante de meu amor! (...)                          


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Funções da linguagem

 Funções da linguagem - O objetivo das funções da linguagem é compreendermos e usarmos o sistema simbólico das diferentes formas de comunicação: cognitiva, constituição de significados, expressão, informação e comunicação.

 Elementos da comunicação


 Referente (assunto) - Contexto relacionado ao emissor e receptor.

 Mensagem - Conteúdo transmitido pelo emissor.

 Emissor - Emite, codifica a mensagem.

 Receptor - Recebe, decodifica a mensagem.

 Código - Conjunto de signos, transmissão e recepção da mensagem, linguagem utilizada.

 Canal - Meio onde a mensagem é transmitida: livros, jornais, revista, fala etc.

 Funções da linguagem

 Função referencial - Também conhecida como cognitiva, informativa ou representativa.
  • A mensagem se refere a coisas reais
  • É a expressão linguística do livro científico e do texto jornalístico
  • A linguagem é utilizada para transmitir informações sobre a realidade
  • Centrada no contexto
  • Predomínio da razão
  • É denominada como função cognitiva
  • Dá ênfase à 3° pessoa do discurso
  • Objetividade
 "Quando chegou a casa, deixou o cavalo sob a árvore e foi receber o amigo."
 "O cinema é uma das maiores invenções dos últimos tempos." ( não confundir com função metalinguística, pois a frase não explica o que é cinema e sim faz uma referência a ele).

 Função metalinguística 
  • É o uso da língua para explicar termos do código
  • A linguagem é utilizada para definir, explicar ou traduzir elementos de um idioma
  • Centrada no código
  • É a linguagem utilizada nos verbetes dos dicionários
  • Definições cumprem a função
  • Linguagem comum nas propagandas e sinais de trânsito
  • Metalinguagem é  ato de dar uma explicação
  • O texto fala de si mesmo (poesia que fala de poesia, reportagem que fala de reportagem etc.)
 "Literatura é a arte da palavra".
 "O livro é uma publicação encadernada, de formatos diversos e com um número indefinido de páginas."

 Função fática - também chamada de função de contato.
  • As mensagens servem para estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação
  • As mensagens são fórmulas altamente ritualizadas, vazias de conteúdo informativo
  • A linguagem é utilizada para estabelecer o contato entre a fonte e o receptor e para testar o funcionamento do canal
  • Centrada no contato ou canal
  • É a linguagem dos bate-papos, das conversas ao telefone
  • Avaliar o nível de entendimento
 Bom dia, compadre. Tudo bem?
 Alô! Quem fala?

 Função emotiva - ou expressiva
  • A mensagem visa a provocar reações do tipo emotivo, a exprimir a emoção do falante
  • Caracteriza-se pelo uso de interjeições, exclamações, diminutivos afetivos
  • A linguagem é utilizada para expressar sentimentos
  • A linguagem é utilizada para expressar emoções, estado d'alma da pessoa que fala
  • Nela predomina a sensibilidade
  • Realça a 1° pessoa do discurso
  • Visão intimista
  • Preocupação com o "eu"
 Que fim de mundo!
 Minha mãezinha querida!

 Função poética - ou estética
  • Consiste no emprego de recursos que deem maior expressividade para a mensagem
  • A linguagem é utilizada de forma peculiar, diferente, artística, criativa
  • Centrada na mensagem
  • É a linguagem empregada nos textos literários, onde predomina a conotação, o sentido figurado, a linguagem bem trabalhada
  • Jogo de palavras
  • Provoca impacto visual, emotivo ou sonoro
 "Que nestas serras e campos
 Nossa Senhora, escondida,
 Só sai à noite, vestida
 De estrelas e pirilampos"
                                                               (Ribeiro Couto)

 Função Conativa - também chamada de apelativa ou imperativa
  • A mensagem representa uma ordem, súplica, aconselhamento
  • A linguagem é utilizada com o propósito de atuar sobre o receptor
  • Centrada no receptor
  • Na frase imperativa predomina a função
  • Apelar
  • Convidar
  • Ordenar
  • Convencer
  • Enfatiza a 2° pessoa do discurso
  • Comum em discursos políticos e mensagens publicitárias
 Senhores, tenham mais responsabilidade nos teus atos!
 Deus, ó Deus, onde estais que não respondes?
Compre aqui, é mais barato!

 Pode ocorrer mais de uma função de linguagem em uma frase ou período:

 -"Espere aí, compadre!/ Tenho uma encomendazinha para você levar pros seus meninos."
         apelativa                           emotiva

 "Há! Todo o cais é uma saudade de pedra."
 emotiva/ poética



















































































































segunda-feira, 4 de abril de 2011

Denotação e Conotação

 Denotação e Conotação

 Denotação - é o emprego de uma palavra no seu sentido próprio (sentido denotativo). Ex.: O médico operou o coração do menino. Coração tem o sentido real.

 Conotação - é o emprego de uma palavra em sentido figurado (sentido conotativo). É o sentido que a palavra adquire dentro de um contexto. Ex.: A Língua Portuguesa é o coração da cultura brasileira. Coração tem sentido figurado.



Denotação   X  Conotação

Denotação
Significado restrito,
impessoal
Palavra:sentido do dicionário
Linguagem simples, precisa, impessoal
Valor usual
Conotação
Significado amplo, vários sentidos
Palavra:sentidos diversos, transpõem o sentido comum
Linguagem literária, expressiva, modo criativo, artístico
Valor literário


 Frases com sentido denotativo (D) e sentido conotativo (C):

 O menino quebrou a vidraça. D
 O aluno quebrou o silêncio. C


 Eles saíram à caça da raposa. D
 Aquele advogado é uma raposa. C

 A mãe de Bernardo estava na cozinha. D
 A preguiça é a mãe de todos os vícios. C


 Uma pedra rolou da encosta. D
 Você é uma pedra no meu sapato. C

 As estrelas do céu brilhavam. D
 As estrelas do cinema brilhavam. C


 O coração bombeia o sangue e o faz circular por todo o corpo. D
 Construíram a cidade no coração do país.









 Hoje fez muito frio. D
 Ele era um homem frio e calculista. C

 O blusão está seco. D
 Aquele homem é muito seco. C

 Ela fez plástica no nariz. D
 Ele mete o nariz em tudo.C











 A casa de Augusto pegou fogo. D
 O fogo da paixão crescia. C

 Maré alta sob a lua cheia. D
 Não adianta remar contra a maré. C

  O sapo é um anfíbio. D
  Ele está cansado de engolir sapo. C

 Luisinho adora comer pão. D
 O ordenado dele mal dava para garantir o pão de cada dia. C







 Felipe cavou um poço de 20 metros. D
 Juliana é um poço de bondade. C


 Laura tem olhos azuis. D
 Comer com os olhos. C






 

 A denotação e conotação na literatura:

 Belo é o mundo

 "Belo é o mundo. D
 Belos os campos, vales e cidades. D
 Mas cega é a carne. C
 E cega é a alma..." C
                                                ( Alphonsus de Guimaraes Filho)

 "neste lance, por ser o derradeiro,
 pois vejo minha vida anoitecer, C
 é, meu Jesus, a hora de se ver
 a brandura de um pai, manso cordeiro"...
                                                       
                                                 ( Gregório de Matos)

 Pororoca

 "Noite pontual. C
 Lua cheia apontou, pororoca roncou. C
 Vem que vem vindo como uma onda inchada. C
 rolando e embolando. D
 com a água aos tombos..." C

                                                ( Raul Bopp)

 Cantigas praianas

 "...Beijando a areia, batendo as fráguas, C
 Choram as ondas; choram em vão: C
 O inútil choro das tristes águas C
           Enche de mágoas
           A solidão..."

                                               ( Vicente de Carvalho )

  Soneto de abril

 "Agora que é abril, e o mar se ausenta, C
 secando-se em si mesmo como um pranto, C
 vejo que o amor que te dedico aumenta. D
 seguindo a trilha de meu próprio espanto..." C

                                                  ( Ledo Ivo)







sábado, 26 de março de 2011

Fábula


Fábula




 Fábula - É a narração em que, geralmente, as personagens são animais, e que tem por objetivo demonstrar um ensinamento, tal ensinamento é a moral ou moralidade da história.
  • Apresenta virtudes e defeitos dos seres humanos através de animais, por meio deles, os autores de fábulas fazem críticas e instruem divertindo.
  • Fusão: lúdico e pedagógico.
  • Instrumento de formação de caráter.
  • Forma fácil de passar  conceitos.
  • Gênero narrativo em que prende a atenção, pelo fato de ser curto e muito eficiente no entretenimento.
  • Inverossímil (inacreditável, improvável).
  • Abordagens: bondade x astucia, bem x mal, fraqueza x força, querer x poder etc.
  • Versatilidade: temas variados - emoção, humor, sátira, ironia etc.

Contos de fábulas

 O ratinho, o galo e o rato

 Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez. Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita de que falavam seus amigos.
 Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitatação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa da roça.
 -Sim senhor! é interessante isto!
 Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha de milho e a estrebaria. Em seguida notou no terreiro um certo animal de belo pelo que dormia sossegado ao sol.
 Aproximou-se dele e farejou-o sem receio nenhum.
 Nisto aparece um galo, que bate as asas e canta.
 O ratinho por um triz  que não morreu de susto. Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à mamãe as aventuras do passeio.
 - Observei muita coisa interessante - disse ele - mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um, de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir, impedindo-me assim de cumprimentá-lo. O outro...Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho que quase caí de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso gato que tamanha destruição faz no nosso povo.
 A mãe-rata assustou-se e disse:
 - Como te enganas, meu filho! o bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista rubra, o outro, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal nenhum. As aparências enganam.
 Aproveita, pois a lição e fica sabendo que "Quem vê cara não vê coração".

      ( Lobato, Monteiro, Fábulas. In: Obras completas. Brasiliense, 1970 v4 p.35/36)



 O burro juiz


 Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse: Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam?
 -Topamos! Piaram as aves. Mas quem servirá de juiz? 
 Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro. -Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidêmo-lo. Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.
 -Vamos lá!, comecem! ordenou ele.
 O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam os sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
 -Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente. E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos. Terminada a justa, o meretíssimo juiz deu a sentença:
 -Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá.

 Moral da história: "Quem burro nasce, togado ou não, burro morre".

                                                                 (Monteiro Lobato. Livro Fábulas, 1922)



                                                        




quinta-feira, 24 de março de 2011

Conto

 Conto - O conto é definido como uma narrativa em prosa, de pequena extensão. Não podemos reconhecer um conto a partir do número de páginas em que se enquadra numa história. Por ser um tipo de narrativa voltada para objetivos bem determinados, a sua forma acompanhará o conjunto dos elementos específicos a esse tipo de narrativa. A chave para o entendimento do conto como gênero está na concentração de sua trama. O conto geralmente trata de uma determinada situação e não de várias, e acompanha sem pausas, pois seu objetivo é levar o leitor ao desfecho, que coincide com o clímax da história, com o máximo de tensão e o mínimo de descrições. Essa forma narrativa possui as suas próprias leis internas, que a singularizam diante das outras formas narrativas. O tempo e o espaço geralmente são reduzidos ao mínimo indispensável para elaboração da trama, assim como são poucos os protagonistas.
 Para se estabelecerem os princípios gerais que regem o conto, é necessário considerá-lo em relação com o seu meio, com a situação na qual é criado e na qual ele vive.
 O conto é um gênero narrativo extremamente vigoroso e oferece várias possibilidades de expansão. Podemos considerar uma forma promissora, é um tipo de leitura mais rápida, concentra em poucas páginas toda a riqueza da arte literária narrativa.

 Enredo do conto "A Cartomante" Machado de Assis

 Tema: Triângulo amoroso. Os amigos de infância Camilo e Vilela reencontram-se depois de muitos anos de distância, Vilela casou-se com Rita que mais tarde foi apresentada ao Camilo.
 Rita, mulher ingênua, havia consultado uma cartomante, achando que seu amante, Camilo deixara de amá-la, já que não visitava mais sua casa. Mas na realidade foi um mal-entendido, fez-se um flashback que explica como começou tal relação. A amizade entre os dois amigos estreita a intimidade entre Camilo e Rita, principalmente depois da morte da mãe dele. Quando sente atração pela mulher do amigo tenta evitar, mas deixa ser seduzido. Até que um dia recebe uma carta anônima, que deixava evidente a relação dele com a mulher do amigo. Temeroso, resolve evitar frequentar a casa de Vilela, deixando Rita preocupada.
 A cartomante: A situação leva Rita a consultar uma cartomante, que prevê alegrias e bem-aventuranças. A cartomante está caracterizada como uma charlatã, ludibriando as pessoas que vão consultá-la, Rita crê que a cartomante vai resolver todos os seus problemas e angústias, Camilo, quando está prestes a ser desmascarado, num momento de desespero, recorre a mesma cartomante, que por sua vez o ilude. A mulher usa de metáforas e frases de efeito, parecendo uma mulher sábia. Antes de ir ao consultório, Camilo recebeu um bilhete do amigo Vilela com a mensagem: "vem já, já" mas o receio que ele tinha de ir à casa do amigo acabou pois a cartomante havia dito para Camilo que o futuro dele seria de felicidade no relacionamento com Rita, e foi para a casa de Vilela confiante. Assim que foi recebido, pôde ver pela porta, que lhe foi aberta, o rosto desfigurado de raiva de Vilela e o corpo de Rita sobre o sofá. Foi morto pelo amigo de infância, que já sabendo da traição da esposa já estava o esperando com a arma em punho.
A cartomante
  •  Foco narrativo: 3° pesssoa, presença onisciente do autor (conhece todos os aspectos da história e suas personagens), este recurso dinamiza o conto, acentua os momentos dramáticos do conto e fortalece o seu epílogo.
  • Estilo "Machadiano": Crítica humorada e irônica das situações humanas, das relações das personagens e seus padrões de comportamento. Análise profunda da psicologia humana (personagens imprevisíveis, contradições humanas, o conflito em ingenuidade x malícia e sinceridade x hipocrisia). 
  • Visão pessimista da vida, onde não existe final feliz.
  • Metalinguagem: A história tem muitas conversas, o narrador dinamiza o conto e transforma o leitor em participante do enredo.
  • 4 personagens principais: Vilela, Camilo, Rita e a cartomante, a morte da mãe de Camilo(personagem secundária) foi importante no enredo da história.
Machado de Assis





segunda-feira, 7 de março de 2011

Literatura infantil

 Literatura infantil -  A literatura infantil é composta por ilustração e texto. O formato dos livros varia muito, ao contrário da literatura para adultos. Elemento muito importante: é a diagramação (forma, cor, textura, dimensão do texto), um livro bem diagramado na literatura infantil é muito importante porque as ilustrações do livro chamam a atenção das crianças e têm um grande valor estético. Na literatura para crianças o grande desafio para o autor infantil é produzir um texto que seja tão imaginário que, com a ajuda das ilustrações o texto tem que ser interessante, abordando o universo infantil.
 Na literatura infantil há necessidade da convivência de duas vertentes  : a ilustração e o literário. Conforme a criança cresce ou amadurece haverá menos necessidade da ilustração no livro, mas um completa o outro. A natureza da literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma significativa.

 Principais características da literatura infantil: 

  • Livros muito ilustrados
  • Discurso direto
  • Narrativa com muita ação
  • Final feliz
  • Linguagem simples
  • Clareza 
  • Livros com poucas páginas
  • Personagens principais: crianças, animais, heróis
  • A importância do maravilhoso
 Principais autores da literatura infantil no Brasil:

 Monteiro Lobato  - Participou ativamente da vida cultural brasileira, e, ao morrer, deixou uma extensa obra, composta de contos, ensaios, romances e uma série de livros infantis que o tornaram muito popular. Seus livros tinham como objetivo ensinar a criança a ter raciocínio próprio e visão crítica do mundo. Em seus livros, Monteiro Lobato contou fatos mitológicos, políticos, sociais, históricos e científicos. Ensinou matemática, português, geografia e astronomia, de um modo claro e objetivo.
 As contestações de Monteiro Lobato estão escondidas na literatura infantil; Emília, uma boneca de pano - diz sempre a verdade porque nunca viveu em sociedade e não sabe mentir. Visconde de Sabugosa - um grande sábio, "vive" dentro de uma biblioteca, desligado da vida, mas sabe da existência do petróleo no Brasil. Pedrinho e Narizinho, têm uma infância normal e livre.
 Declaração de Monteiro Lobato: "De escrever para marmanjos, já enjoei. Bichos sem graça. Mas, para crianças, um livro é todo um mundo. Ainda acabo fazendo livros onde nossas crianças possam morar, como morei no 'Robinson' e nos 'filhos do Capitão Grant".
 Principais obras infantis: A menina do narizinho arrebitado; O Saci; O noivado de Narizinho; Reinações de Narizinho; Viagem ao céu; Caçadas de Pedrinho; Emília no país da gramática; Geografia de dona Benta; Histórias de tia Nastácia; O picapau amarelo.
Monteiro Lobato




 Orígenes Lessa - Orígenes Lessa foi contista, jornalista, romancista, ensaísta e imortal da Academia Brasileira de Letras. Orígenes Lessa, escreveu vários gêneros literários, e obteve consagração como escritor de literatura infantil e infanto-juvenil,tendo-se iniciado nesta vertente quando solicitado para palestrar sobre "O feijão e o sonho" em uma escola , Orígenes espantou-se pois este romance é uma leitura para adultos e as crianças gostavam muito de ler. Em menos de 15 dias Orígenes Lessa escreveu "Memórias de um cabo de vassoura", editado em 1971, e devido ao grande sucesso com o público infantil, não parou mais de escrever para crianças.
 Na literatura infantil e infanto-juvenil, Orígenes Lessa manteve sua característica principal: relação entre autor, obra e leitor. Ele dizia que "escrever para crianças é muito gostoso se a gente acerta o gosto delas, mas é uma barra muito pesada, pois seremos os culpados ou não pela receptividade da leitura pelos adolescentes."
 Principais obras para crianças e adolescentes: O sonho de Prequeté, Memórias de um cabo de vassoura; Sequestro em Parada de Lucas; Memórias de um fusca; Napoleão ataca outra vez; A escada de nuvens; Confissões de um vira-lata; A floresta azul; O mundo é assim, Taubaté; É conversando que as coisas se entendem.
Orígenes Lessa




 Comparações das obras de Monteiro Lobato e Orígenes Lessa:

  • Comicidade e humor (elementos que prendem a atenção das crianças)
  • Certo olhar crítico diante da vida
  • Suas obras infantis e infanto - juvenis também são muito apreciadas por adultos
  • Alto nível de comunicação com o público infantil
  • Tanto Lobato quanto Lessa, eram exímios contadores de histórias

 Maurício de Sousa - É um dos mais famosos cartunistas do Brasil, Maurício de Sousa começou a desenhar histórias em quadrinhos em 1959, quando uma história do Bidu, sua primeira personagem foi aprovada pelo jornal. As tiras em quadrinhos com um cãozinho Bidu e seu dono, Franginha, deram origem aos primeiros personagens conhecidos da era Turma da Mônica. O quadrinhos de Maurício de Sousa têm fama internacinal, e foram adaptados para o cinema, televisão e vídeo-games; além de terem sido licenciados para o comércio em uma série de produtos com a marca das personagens. Qualquer criança que tenha acesso às revistinhas criadas por Maurício de Sousa, encantam-se com suas histórias que misturam ficção com realidade.
 Principais obras: Turma da Mônica; Turma do Chico Bento; Turma do Bidu; Turma da Tina; Turma do Penadinho; Horácio; Cebolinha; Cascão; Magali; Turma do Pelezinho.
Maurício de Sousa

 Ziraldo - É um cartunista, chargista, pintor, traumaturgo, escritor, cronista, desenhista e jornalista. A obra de Ziraldo mescla palavras e imagens de forma harmônica e convida o leitor à reflexão sobre a realidade. Por vezes, o olhar é conduzido para simples partes do corpo como o umbigo Rolim e o joelho Juvenal que se tornaram personagens principais de estórias. A proposta principal é uma parte do corpo, por menor que seja, pode sozinha não parecer tão importante, mas no conjunto do funcionamento ela se torna fundamental. Manifesta-se nessa perspectiva o posicionamento político e demográfico que marca a obra deste grande escritor.
 Principais obras infantis: A bola quiquica; A bonequinha de pano; A casinha pequenina; A fábula das três cores; A turma do Pererê; Flicts; O Menino Maluquinho; O joelho Juvenal; O mundo é uma bola; Rolim.
Ziraldo

 Maria Clara Machado - Escritora e dramaturga, autora de famosas peças infantis. Fundadora do Tablado, escola de teatro no Rio de Janeiro. Seu maior sucesso do Tablado e o texto mais bem montado foi Pluft, o Fantasminha. Esta peça conta com humor e poesia, é a obra mais completa de Maria Clara Machado.
 Outras obras de destaque: O rapto das cebolinhas; A Bruxinha que Era Boa; O Aprendiz de Feiticeiro; A Menina e o Vento; O Cavalinha Azul; Os Cigarras e os Formigas; O Embarque de Noé; Maria Minhoca; O Chapeuzinho Vermelho.
Maria Clara Machado



 Ana Maria Machado - Jornalista, professora, pintora e escritora, membro da Academia Brasileira de Letras, dos prêmios que já recebeu, o que merece maior destaque foi o Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio de literatura infantil. Também foi uma das fundadoras da 1° livraria infantil no Brasil (Malasartes), mas vendeu sua parte, pois ela não conseguiu conciliar a carreira de escritora com a de comerciante. Como ela mesma declarou "Um escritor é um artista, tem que ser livre. Um livreiro é um comerciante, tem que dar sempre razão ao freguês".
 Obras de destaque no segmento infantil: Amigo é comigo; Bento que Bento é o frade; Raul da ferrugem azul; O canto da praça; O que É?; Abrindo caminho; Era uma vez três; O gato do mato e o cachorro do morro; O mistério da ilha; O domador de monstros.
Ana Maria Machado


 Cecília Meireles - Poetisa, pintora, professora e jornalista. Um dos maiores nomes da Literatura Brasileira e da 2° geração modernista. Formou-se professora primária, exercia o magistério ao mesmo tempo que colaborava com vários jornais e revistas cariocas. Sua formação como professora e o interesse pela educação levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil que ficava localizada na enseada de Botafogo, Rio de Janeiro, lá Cecília Meireles desenvolveu sua criatividade e seu empenho em favor da literatura infantil. Quando existia uma dificuldade pedagógoca ou disciplinar, era comunicado a Cecília, que sempre resolvia e ordenava. Embora seja mais reconhecida como poetisa, também nos deixou contos, crônicas, literatura infantil e folclore, chegou a ser reconhecida internacionalmente como grande conhecedora do assunto.
 Obras principais infantis: O cavalinho branco; Colar de Carolina; Sonhos de menina; O menino azul. Poemas marcados pela musicalidade, pela influência simbolista de Cecília.
Cecília Meireles


 Clarice Lispector - Romancista, contista, cronista e jornalista. Um dos maiores nomes da 3° geração modernista e da Literatura do Brasil. A literatura infantil de Clarice Lispector é abordada com grande sensibilidade, envolvida num clima de aconchego e conforto, fazendo com que a cada página lida, as crianças se sentissem como que entrando na casa da própria autora. Clarice conseguiu criar um clima de "intimidade" próprio para ganhar confiança, ela "dialoga" com o leitor mirim. "Antes de começar, quero que vocês saibam que  meu nome é Clarice. E vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e meu coração vai ouvir". Esse recurso estilístico se repete muitas vezes, os supostos diálogos da narradora com o leitor predominam em relação às ações da própria narrativa. Clarice Lispector estava ciente de como penetrar no universo infantil de modo seguro; e consegue fazer com que o leitor mirim não se "sinta sozinho" ao ler a história.
 Principais obras infantis: Mistério do Coelho Pensante; A Vida Íntima de Laura; A Mulher que Matou os Peixes; Quase de Verdade.
Clarice Lispector


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