No século XVIII na Europa apresentou- se uma fase de transformação cultural. Houve uma valorização da razão como progresso social e cultural. Essas ideias de racionalismo eram opostas às ideias religiosas do Barroco, que foram consideradas retrógradas. Contra os exageros do estilo Barroco, os autores resolveram propor uma literatura simples, espontânea, voltada à natureza, paisagens campestres, pastores e pastoras vivendo uma existência sadia. Arcadismo origina-se de uma região da Grécia chamada Arcádia, segundo a mitologia pastores viviam uma vida de amor e poesia.
Outras características do Arcadismo:
Lira XVI
Minha bela Marília, tudo passa;
a sorte deste mundo é mal segura;
se vem depois dos males a ventura,
vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
sujeitos ao poder do ímpio fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
já foi pastor de gado.
A devorante mão da negra morte
acaba de roubar o bem que temos;
até na triste campa não podemos
zombar do braço da inconstante sorte:
qual fica no sepulcro,
que seus avós esgueram, descansado;
qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
ferro do torto arado.
Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração que, frouxo,
a grata posse de seu bem difere,
a si Marília, a si próprio rouba,
e a si próprio fere.
Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre:
e para nós, o tempo que se passa,
também, Marília, morre.
Com anos, Marília, o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado;
triste, o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho, sempre alegre, salta.
A mesma formosura
é dote que só goza a mocidade:
rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
que vão passando os florescentes dias?
as glórias que vêm tarde, já vêm frias,
e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
e ao semblante a graça!
( Apud Candido, Antonio e Castello, J.A. Presença da Literatura
Brasileira. v.1, p. 193-94.)
Podemos observar neste poema:
- Idealização da mulher amada (Marília);
- Deus grego (Apolo);
- Norma poética (todas as estrofes têm 8 versos);
- A velhice é incerta ("Com os anos Marília, o gosto falta...");
- Quem tira a felicidade a si fere ("a grata posse de seu bem difere...");
-Exaltação dos prazeres da vida física ("...gozemos do prazer de são amores.").
Outras características do Arcadismo:
- O uso de pseudônimos de pastores latinos ou gregos;
- Desprezo em morar nos centros urbanos (fugere urbem - fugir da cidade);
- Carpe diem - viver o momento;
- Reação ao exagero Barroco;
- A literatura é fácil de ser entendida;
- O Arcadismo também é conhecido como Neoclassicismo (inspiração na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento e Antiguidade grega e latina.
Lira XVI
Minha bela Marília, tudo passa;
a sorte deste mundo é mal segura;
se vem depois dos males a ventura,
vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
sujeitos ao poder do ímpio fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
já foi pastor de gado.
A devorante mão da negra morte
acaba de roubar o bem que temos;
até na triste campa não podemos
zombar do braço da inconstante sorte:
qual fica no sepulcro,
que seus avós esgueram, descansado;
qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
ferro do torto arado.
Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim, façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração que, frouxo,
a grata posse de seu bem difere,
a si Marília, a si próprio rouba,
e a si próprio fere.
Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre:
e para nós, o tempo que se passa,
também, Marília, morre.
Com anos, Marília, o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado;
triste, o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho, sempre alegre, salta.
A mesma formosura
é dote que só goza a mocidade:
rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
que vão passando os florescentes dias?
as glórias que vêm tarde, já vêm frias,
e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
e ao semblante a graça!
( Apud Candido, Antonio e Castello, J.A. Presença da Literatura
Brasileira. v.1, p. 193-94.)
Podemos observar neste poema:
- Idealização da mulher amada (Marília);
- Deus grego (Apolo);
- Norma poética (todas as estrofes têm 8 versos);
- A velhice é incerta ("Com os anos Marília, o gosto falta...");
- Quem tira a felicidade a si fere ("a grata posse de seu bem difere...");
-Exaltação dos prazeres da vida física ("...gozemos do prazer de são amores.").
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