segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Arcadismo

 No século XVIII na Europa apresentou- se uma fase de transformação cultural. Houve uma valorização da razão como progresso social e cultural. Essas ideias de racionalismo eram opostas às ideias religiosas do Barroco, que foram consideradas retrógradas. Contra os exageros do estilo Barroco, os autores resolveram propor uma literatura simples, espontânea, voltada à natureza, paisagens campestres, pastores e pastoras vivendo uma existência sadia. Arcadismo origina-se de uma região da Grécia chamada Arcádia, segundo a mitologia pastores viviam uma vida de amor e poesia.
 Outras características do Arcadismo:
  •  O uso de pseudônimos de pastores latinos ou gregos;
  •  Desprezo em morar nos centros urbanos (fugere urbem - fugir da cidade);
  •  Carpe diem - viver o momento;
  •  Reação ao exagero Barroco;
  •  A literatura é fácil de ser entendida;
  •  O Arcadismo também é conhecido como Neoclassicismo (inspiração na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento e Antiguidade grega e latina.
 Poema de Tomás Antônio Gonzaga

 Lira XVI

 Minha bela Marília, tudo passa;
 a sorte deste mundo é mal segura;
 se vem depois dos males a ventura,
 vem depois dos prazeres a desgraça.
     Estão os mesmos deuses
 sujeitos ao poder do ímpio fado:
 Apolo já fugiu do céu brilhante,
      já foi pastor de gado.

 A devorante mão da negra morte
 acaba de roubar o bem que temos;
 até na triste campa não podemos
 zombar do braço da inconstante sorte:
    qual fica no sepulcro,
 que seus avós esgueram, descansado;
 qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
     ferro do torto arado.

 Ah! enquanto os destinos impiedosos
 não voltam contra nós a face irada,
 façamos, sim, façamos, doce amada,
 os nossos breves dias mais ditosos.
     Um coração que, frouxo,
 a grata posse de seu bem difere,
 a si Marília, a si próprio rouba,
     e a si próprio fere.

 Ornemos nossas testas com as flores,
 e façamos de feno um brando leito;
 prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
 gozemos do prazer de sãos amores.
     Sobre as nossas cabeças,
 sem que o possam deter, o tempo corre:
 e para nós, o tempo que se passa,
    também, Marília, morre.

 Com anos, Marília, o gosto falta,
 e se entorpece o corpo já cansado;
 triste, o velho cordeiro está deitado,
 e o leve filho, sempre alegre, salta.
     A mesma formosura
 é dote que só goza a mocidade:
 rugam-se as faces, o cabelo alveja,
     mal chega a longa idade.

 Que havemos de esperar, Marília bela?
 que vão passando os florescentes dias?
 as glórias que vêm tarde, já vêm frias,
 e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
      Ah! não, minha Marília,
 aproveite-se o tempo, antes que faça
 o estrago de roubar ao corpo as forças,
      e ao semblante a graça!

                                                                ( Apud Candido, Antonio e Castello, J.A. Presença da Literatura
                                                                 Brasileira. v.1, p. 193-94.)


 Podemos observar neste poema:

 - Idealização da mulher amada (Marília);
 - Deus grego (Apolo);
 - Norma poética (todas as estrofes têm 8 versos);
 - A velhice é incerta ("Com os anos Marília, o gosto falta...");
 - Quem tira a felicidade a si fere ("a grata posse de seu bem difere...");
 -Exaltação dos prazeres da vida física ("...gozemos do prazer de são amores.").

 

0 comentários:

Postar um comentário