domingo, 2 de outubro de 2011

Análise do livro O Cortiço

 O melhor exemplo do romance naturalista brasileiro é O Cortiço, de Aluísio Azevedo, publicado em 1890.
 Uma ampla galeria de tipos humanos desfila pelas páginas do romance: lavadeiras, operários, prostitutas, mascates, todos representantes de uma população marginal, que vive num ambiente degradado e corruptor. Na verdade, o cortiço parece adquirir vida própria, determinando o comportamento dos que ali moram, como é o caso de pombinha, menina pura e simples, não resiste às pressões do meio acaba por se prostituir, Jerônimo, aldeão português, foi morar no cortiço com a mulher e a filha, ele foi arrebatado por uma paixão sensual por Rita Baiana, o português abandonou a família e a vida simples que levava.
 O narrador focaliza a ascensão do português João Romão, dono do cortiço e também uma pedreira cujos empregados, além de morar nos casebres por ele alugados, endividavam-se ao comprar fiado em sua venda.
 Através dessa exploração, João Romão vai se enriquecendo, auxiliado por sua amante e empregada, a escrava fugida Bertoleza, para quem ele havia forjado uma carta de alforria. O maior desejo do vendeiro é adquirir boa posição social, como a de seu patrício Miranda, que mora no sobrado encostado ao cortiço. Movido pela ambição, não hesita em usar de todos os recursos para acumular fortuna e ficar noivo da filha de Miranda. Para livrar-se de Bertoleza, que era um obstáculo às suas ambições, denuncia sua fuga aos antigos donos, que vão buscá-la com a polícia. A escrava, porém, percebendo a traição, suicida-se.
 Acompanhando a evolução social de João Romão, o cortiço também se desenvolve, transformando-se na Avenida São Romão, com uma aparência mais cuidada, e a população miserável reúne-se em outro cortiço, o Cabeça de Gato.
 Aluísio Azevedo, influenciado por Émile Zola (escritor francês e criador do movimento naturalista), e por Eça de Queirós (responsável pela introdução do Realismo em Portugal). A influência de Zola foi a caracterização das personagens e Eça de Queirós correção nas descrições das personagens e a denúncia da corrupção moral, hipocrisia da burguesia e do clero, chamando a atenção para problemas sociais de forma polêmica.

 Romance das sensações - A linguagem de Aluísio organiza as personagens pela sensibilidade, a sensação olfativa é um dos elementos estruturadores dos seus enredos.

 Romance social - A presença marcante das ideias científicas da época sobre a influência decisiva da hereditariedade e do meio ambiente no comportamento humano, tornando o homem um produto direto de sua constituição psicofisiológica (relações mentais e funções físicas) e das pressões sociais.

 Ambição: A exploração do homem pelo próprio homem.
 As personagens são apresentadas como um problema social urbano, são dois blocos de personagens, duas classes sociais, o cortiço X o sobrado da família Miranda.

 Narração: Predomínio da narrativa - discurso indireto livre, a narração é feita em 3° pessoa e o narrador é onisciente (tem o conhecimento de tudo). 

 Predominância de pontuações: (Diálogo entre Marciana e João Romão).
 -De acordo, mas o tratante cegou-me! Que havemos de fazer?... É ter paciência!
 -Pois então ande com o dote!
 -Bêbada, hein? Ah, corja! tão bom é um como o outro! Mas eu hei de mostrar!
 -Ora, não me amole!
 Aluísio Azevedo utilizou-se das pontuações para dar um ritmo às narrações, principalmente  o uso frequente das exclamações.


 Vulnerabilidade sexual - A sexualidade em O Cortiço é algo natural nos seres humanos. As formas de lidar com ela variam de acordo com o grupo social a que pertencem. As camadas sociais mais pobres são mais vulneráveis ao ponto de vista sexual, são vítimas de exploração, gravidez indesejada, agressões.


 Teses naturalistas imersas no determinismo: O determinismo científico equipara o homem ao animal, a força dos instintos e o meio que determina a ação e a caracterização das personagens.
 "A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a 'Machona', portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo."
 "... a filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca."
 "No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem saber de onde; grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas."