quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ambiguidade ou anfibologia

 Ambiguidade ou anfibologia - É o vício da construção frasal que apresenta mais de uma interpretação. Em muitos casos, a ambiguidade provém de problemas de construção pelo uso indevido da coordenação ou má colocação das palavras:

 1. Encha seu filho de bolachas!
 É para dar biscoitos ou encher o menino de tapas?

 2. Pare de fumar correndo!
 É para deixar de fumar fazendo uma corrida ou parar de fumar rapidamente?

 3. Se o seu carro não pega, faça uma ligação direta.
 Tem que fazer uma ligação direta para o carro voltar a funcionar ou telefonar logo para alguém consertar?

 4. Ninguém esperava minha indicação para o cargo.
 Que eu fizesse a indicação ou que eu fosse indicado?

 5. A moça encontrou a irmã atrasada.
 Quem estava atrasada? a moça ou a irmã?

 6. O repórter entrevistou o escritor resfriado.
 Quem estava resfriado? o repórter ou o escritor?

 7. Ele comprou o carro rápido.
 Ele comprou o carro rapidamente, imediatamente ou o carro é rápido?

 8. A vítima deixou o diário dentro do armário secreto.
 Quem era secreto? o diário ou o armário?

 9. A empregada retirou o cobertor do armário sujo.
 O que estava sujo? o cobertor ou o armário?

 10. Fiel e valente, o guarda conta com a ajuda de seu cachorro.
 O guarda ou o cachorro é fiel e valente?

 11. Eu vi o artista com um binóculo.
 Eu estava com um binóculo ou era o artista?

 12.A mãe visitou a filha adoentada.
 Quem estava doente? a mãe ou a filha?

 13. Ela meteu a mão na massa para fazer a comida.
 Trabalhou com afinco ou misturou a massa, fez a receita?

 14. A empregada levou tempo para tirar a mesa.
 Retirou a mesa do lugar ou arrumou, desfez a mesa?

 15. Sempre gostei de preto no branco.
 São as cores preto e branco combinando ou gosta das ações, maneira de viver corretas?

 16. Ela não conseguiu a linha que desejava.
 Era linha para costurar ou linha telefônica?

 17. A empregada botou as mãos nas cadeiras.
 As cadeiras  (objetos)  aquelas que usamos para nos sentarmos ou eram as cadeiras da empregada? (cintura).

 18. Suas ações lhe trouxeram riqueza.
 São ações da Bolsa de Valores ou são as ações atitudes?

 19. O gráfico veio com a capa na mão.
 Capa de revista ou capa que ele usa no local de trabalho?

 20. Aquela não era a cadeira da Universidade que mais lhe agradava.
 Cadeira (móvel) ou a disciplina?

 A ambiguidade na Literatura

 Ambiguidade na Literatura não é pelo uso da má formação de palavras ou erro de construção frasal. Como Literatura é a arte da palavra, os poetas e escritores têm liberdade para criar suas obras para que o leitor possa ter várias reações e refletir.
 Um autor que costuma apresentar ambiguidade em suas obras é Machado de Assis. Na obra Dom Casmurro não adianta discutir se houve  adultério ou não e sim a narrativa ambigua Machadiana, repleta de dualismos do ser humano, conceitos morais e  contradição. Nunca saberemos se Capitu era maquiavélica, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", sedutora e capaz de trair ou se era simplesmente inocente, pois ninguém tem provas nem existem testemunhas da traição de Capitu.
 Em Dom Casmurro temos:
 verdade x realidade
 dualismo do ser humano x natureza do ciúme
 mal x bem

 Com a ambiguidade nas obras de Machado de Assis, não sabemos o que é bom ou mal, o que é real ou ficcção e qual o sentido exato das palavras.

Machado de Assis

 Outro autor que apresenta ambiguidade em suas obras é Álvares de Azevedo, sua obra influenciada por sua personalidade adolescente, revela ambiguidade:

 aspiração aos amores virginais x descrição da mulher erotizada
versos mórbidos x versos com humor
desejo carnal x sentimento amoroso

 Trecho de Soneto:

 "Era a virgem do mar! na escuma fria
 Pela maré das águas embalada!
 Era um anjo entre as nuvens d'avorada
 Que em sonhos se banhava e se esquecia!

 Era mais bela! o seio palpitando...
 Negros olhos as pálpebras abrindo...
 Formas nuas no leito resvalando..."

 No quarteto o poeta aspira ao amor virginal e no terceto ele descreve a mulher erotizada.

 Trecho de O poeta moribundo:

 "Poetas! amanhã ao meu cadáver
 Minha tripa cortai mais sonorosa!...
 Façam dela uma corda e cantem nela
 Os amores da vida esperançosa!"

 Trecho de Namoro a cavalo:

 "Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
 Que rege minha vida malfadada
 Pôs lá no fim da rua do Catete
 A minha Dulcinéia namorada.

 Alugo (três mil réis) por uma tarde
 Um cavalo de trote (que esparrela!)
 Só para erguer meus olhos suspirando
 À minha namorada na janela..."

 Tanto em O poeta moribundo, quando em Namoro a cavalo, evidentemente observamos características do romantismo byronista, mas devemos perceber que a abordagem é ambígua pois ora Álvares de Azevedo põe humor, ora pensamentos sobre a morte.

 Dificuldade de conciliar o desejo carnal com o sentimento amoroso:

 Trecho de Lira dos Vinte anos

Álvares de Azevedo
 Era uma noite - eu dormia
 E nos meus sonhos revia
 As ilusões que sonhei!
 E no meu lado senti...
 Meu Deus! por que não morri?
 Por que do sono acordei?
 No meu leito - adormecida
 Palpitante e adormecida
 Palpitante e abatida,
 A amante de meu amor! (...)