Fábula
Fábula - É a narração em que, geralmente, as personagens são animais, e que tem por objetivo demonstrar um ensinamento, tal ensinamento é a moral ou moralidade da história.
- Apresenta virtudes e defeitos dos seres humanos através de animais, por meio deles, os autores de fábulas fazem críticas e instruem divertindo.
- Fusão: lúdico e pedagógico.
- Instrumento de formação de caráter.
- Forma fácil de passar conceitos.
- Gênero narrativo em que prende a atenção, pelo fato de ser curto e muito eficiente no entretenimento.
- Inverossímil (inacreditável, improvável).
- Abordagens: bondade x astucia, bem x mal, fraqueza x força, querer x poder etc.
- Versatilidade: temas variados - emoção, humor, sátira, ironia etc.
Contos de fábulas
O ratinho, o galo e o rato
Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez. Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita de que falavam seus amigos.
Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitatação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa da roça.
-Sim senhor! é interessante isto!
Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha de milho e a estrebaria. Em seguida notou no terreiro um certo animal de belo pelo que dormia sossegado ao sol.
Aproximou-se dele e farejou-o sem receio nenhum.
Nisto aparece um galo, que bate as asas e canta.
O ratinho por um triz que não morreu de susto. Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à mamãe as aventuras do passeio.
- Observei muita coisa interessante - disse ele - mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um, de pelo macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir, impedindo-me assim de cumprimentá-lo. O outro...Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho que quase caí de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso gato que tamanha destruição faz no nosso povo.
A mãe-rata assustou-se e disse:
- Como te enganas, meu filho! o bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista rubra, o outro, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal nenhum. As aparências enganam.
Aproveita, pois a lição e fica sabendo que "Quem vê cara não vê coração".
( Lobato, Monteiro, Fábulas. In: Obras completas. Brasiliense, 1970 v4 p.35/36)
O burro juiz
Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse: Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam?
-Topamos! Piaram as aves. Mas quem servirá de juiz?
Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro. -Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidêmo-lo. Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.
-Vamos lá!, comecem! ordenou ele.
O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam os sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
-Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente. E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos. Terminada a justa, o meretíssimo juiz deu a sentença:
-Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá.
Moral da história: "Quem burro nasce, togado ou não, burro morre".
(Monteiro Lobato. Livro Fábulas, 1922)