quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Literatura de cordel

 Literatura de cordel

 A literatura de cordel foi introduzida no Brasil pelos portugueses, século XVIII. É poesia popular impressa e divulgada em folhetos ilustrados em xilogravuras. Tem este nome porque em Portugal os folhetos eram expostos em cordões, chamados cordéis.
 A publicação gráfica de um folheto de cordel transparece de maneira plena, a sua oralidade. Ele pertence ao universo sem escrita dos cantadores, cujo acervo do saber é a memória, ritmar o universo.
 A literatura oral não se restringe à mera tarefa de substituir a produção literária impressa nos ouvidos e nas bocas dos que não costumam ler. A literatura oral é mais velha que a escrita. Uma cultura elitizada tende a classificar o cordel, as expressões e sabedoria do povo como uma literatura ingênua, pitoresca, folclórica.
 A literatura de cordel é obra popular transformada em arte. Junto com as migrações, o cordel foi introduzido nas metrópoles do Brasil, sua abordagem não é só regional, são constantes os temas atuais, urbanos, adivinhas, parlendas, estórias, travalínguas, romances e anedotas.
 Voz e ritmo que provêm de um ambiente socialmente pobre, o cordel é capaz de atingir a todas as camadas sociais, utilizando a imaginação e criatividade popular.

 Principais autores:


 Leandro Gomes de Barros: Foi o mais importante autor da literatura de cordel, ainda é o escritor mais lido entre os escritores populares. Publicou aproximadamente mil folhetos e tirou deles mais de dez mil edições, nascido no município de Pombal, Paraíba no ano de 1865 viveu exclusivamente de escrever seus versos populares. Fazia críticas sobre a política, história, religiosos. Denunciava os abusos dos coronéis. Principais obras:

  • O punhal e a palmatória
  • O cavalo que defecava dinheiro
  • O cachorro dos mortos
  • História do boi misterioso
  • A vida de Pedro Cem
  • Os sofrimentos de Alzira
  • História de João da Cruz
  • A mulher roubada
  • Suspiros de um sertanejo
  • A seca do Ceará
Leandro Gomes de Barros


 Trechos de suas obras:

 "Leitores peço desculpas
 Se a obra não for de agrado,
 Sou um poeta sem força
 O tempo tem me estragado,
 Escrevo há 18 anos
 Tenho razão de estar cansado"

                                               (A mulher roubada)

 "Nós temos cinco governos
 O primeiro o federal
 O segundo o do estado
 O terceiro o municipal
 O quarto a palmatória
 E o quinto o velho punhal"

                                               (O punhal e a palmatória)

 "Se vendo o compadre pobre
 Naquela vida privada
 Foi trabalhar nos engenhos
 Longe da sua morada
 Na volta trouxe um cavalo
 Que não servia pra nada

 Disse o pobre à mulher:
 -como havemos de passar?
 O cavalo é magro e velho
 Não pode mais trabalhar
 Vamos inventar um 'quengo'
 Pra ver se o querem comprar.

 Foi na venda e de lá trouxe
 Três moedas de cruzado
 Sem dizer nada a ninguém
 Para não ser censurado
 No fiofó do cavalo
 Foi o dinheiro guardado

 Do fiofó do cavalo
 Ele fez um mealheiro
 Saiu dizendo: -sou rico!
 Inda mais que um fazendeiro,
 Porque possuo o cavalo
 Que só defeca dinheiro..."

                                                (O cavalo que defecava dinheiro)

 João Martins de Athayde: Nasceu na Paraíba e criado em Pernambuco. Não frequentou a escola, aprendeu a ler e escrever sozinho, começou a admirar a poesia popular porque ouvia os cantadores da região, sua primeira rima foi composta aos 12 anos. Comprou os direitos autorais de Leandro Gomes de Barros e editou também os poemas deste grande cordelista. Principais obras:

  • A bela adormecida no bosque
  • A menina perdida
  • A moça que foi enterrada viva
  • A sorte de uma meretriz
  • História de Joãozinho e Mariquinha
  • História de José do Egito
  • O retirante
  • O segredo da princesa
  • Romeu e Julieta
  • Um passeio no escuro
João Martins de Athayde


 Cuíca de Santo Amaro: Baiano, gostava de retratar o quotidiano de sua terra natal, era um tipo de cronista e repórter, qualquer fato interessante, Cuíca não deixava "escapar". Gostava de fazer denúncias contra corruptos e poderosos de sua época e era grande amigo de Jorge Amado. Algumas obras:


  • O sururú na federação de desportos terrestres
  • O câmbio negro e as misérias na Bahia
  • O casamento de Orlando Dias com Cauby Peixoto
  • A grande explosão! no barracão de fogos
  • O carnaval da bandalheira
  • Políticos e demagogos e homens sem palavra
Cuíca de Santo Amaro


 Trecho de sua obra:

 "Era imenso o galinheiro
 Estava mesmo lotado
 Tudo de camisa verde
 Era um quadro gozado
 Porém só tinha um galo
 E era o Plínio Salgado

 Porém o galinheiro
 Muito tempo não durou
 Quando foi um belo dia
 Getúlio Vargas cismou
 Agarrou logo o galinheiro
 E o rabo logo cortou.

 Nunca disse a ninguém
 Que eu era Getulista
 Nem também afirmei
 Que eu era Queremista
 Todos sabem muito bem
 Que eu sou propagandista..."







                                                                       



                                                                                           


                                                     








quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Tropicália

 Tropicália

 Tropicália ou tropicalismo foi um movimento musical, que influenciou outras áreas culturais como: artes plásticas, poesia, cinema.
 Em 12 de setembro de 1968, acompanhado pelo grupo Os Mutantes, Caetano Veloso estava tentando apresentar a canção É proibido proibir. Tomates e vaias, discordância na plateia, os artistas no palco de costas para a plateia e a plateia de costas para os artistas. A música, inscrita no 3° Festival Internacional da Canção, fora inspirada  pelos grafites que cobriram os muros de Paris na rebelião estudantil de maio de 1968. Ironicamente, a canção prenunciava o início da época em que, no Brasil se tornaria permitido proibir.
 Três meses depois daquela apresentação de Caetano com Os Mutantes no Teatro da Universidade Católica, em São Paulo, o general Costa e Silva decretou o AI-5, o ato que permitiria à censura submeter a cultura nacional a uma espécie de lavagem cerebral. Embora atingisse a literatura, o cinema, o teatro e a imprensa, a censura foi especialmente dura com a música. Desde o sucesso mundial da bossa nova, início dos anos 60, a música se tornou a manifestação cultural mais vibrante no Brasil. Com o advento da Jovem Guarda, por volta de 1965, a música entraria na era da cultura de massa e logo se associaria à televisão.
 As redes de televisão promoviam festivais como o FIC (Festival Internacional da Canção), neles explodia o choque entre a música de protesto, origem nacionalista e música pop, americanizada e rotulada como alienada.
 O que levou o público a vaiar Caetano naquela noite foi o confronto entre a juventude "engajada" e de esquerda e a vanguarda artística que Caetano Veloso e Gilberto Gil representavam. Há uma grande semelhança entre este acontecimento com a primeira noite da Semana de Arte Moderna em 1922, que não foi mera coincidência, quando se sabe que, pouco antes, os dois baianos tinham criado o movimento Tropicalista, releitura pop e hippie da Antropofagia de Mário e Oswald de Andrade. Baseados em tudo o que acontecia de novo e de jovem em um país fervilhante:

  • Cinema novo
  • Experimentalismos do Teatro de Arena e Teatro de Opinião
  • Ecos da bossa nova
  • Jovem Guarda
  • Cultura televisiva
  • Telenovelas
  • Pintura de Hélio Oiticica
  • Poesia concretista

 É proibido proibir   Caetano Veloso

 A mãe da virgem diz que não
 E o anúncio da televisão
 E estava escrito no portão
 E  maestro ergueu o dedo
 E além da porta
 Há o porteiro, sim...

 E eu digo não
 E eu digo não ao não
 Eu digo: É!
 Proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir...

 Me dê um beijo meu amor
 Eles estão nos esperando
 Os automóveis ardem em chamas
 Derrubar as prateleiras
 As estantes, as estátuas
 As vidraças, louças
 Livros, sim...

 E eu digo sim
 E eu digo não ao não
 E eu digo: É!
 Proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir

 Me dê um beijo meu amor
 Eles estão nos esperando
 Os automóveis ardem em chamas
 Derrubar as preteleiras
 As estátuas, as estantes
 As vidraças, louças
 Livros, sim...

 E eu digo sim
 E eu digo não ao não
 E eu digo: É!
 Proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir
 É proibido proibir...












 Tropicália    Caetano Veloso


Sobre a cabeça os aviões

Sob os meus pés, os caminhões
Aponta contra os chapadões, meu nariz


Eu organizo o movimento

Eu oriento o carnaval

Eu inauguro o monumento

No planalto central do país


Viva a bossa, sa, sa


Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça


O monumento é de papel crepom e prata

Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão

O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga,
Estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente, 
Feia e morta,
Estende a mão

Viva a mata, ta, ta

Viva a mulata, ta, ta, ta, ta

No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina

E faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis

Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia

No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança a um samba de tamborim

Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele pões os olhos grandes sobre mim

Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma

Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça

Porém, o monumento
É bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Viva a banda, da, da
Carmen Miranda, da, da, da da, da da da

Caetano Veloso e Gilberto Gil